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Inflação e fome: Movimento Nacional contra a fome volta a ser pauta em 2021
Maio 4, 2021
GUERRA CULTURAL: LEI ROAUNET E MINISTÉRIO DA CULTURA COMO FORMAS DE ATAQUES AOS ARTISTAS
Maio 13, 2021No mapa desigual da insegurança alimentar, quem mais sofre são as famílias pardas e pretas do Nordeste
Escrito por Klycia Fontenele e arte por Renato Freire
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são, tantas vezes, gestos naturais…”. Cantava a indignação de Caetano Veloso nos idos de 1984. Passados 37 anos, o grito do poeta baiano está mais atual do que nunca, e denuncia os dias de hoje quando uma pandemia escancara o problema da fome em todo o Brasil e a má gestão do Presidente Bolsonaro alvoroça até os corações mais serenos.
São 125 milhões de brasileiros vivendo em situação de insegurança alimentar grave (15%), moderada (12,7%) ou leve (31,7%). Eles representam 59,4% da população do país. Os dados se referem a novembro e dezembro de 2020 e foram coletados pelo grupo Alimento para Justiça, da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB), com financiamento do governo da Alemanha.
Este percentual (59,4%) é cerca de 23 pontos maior do que o registrado pela Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita entre 2017 e 2018. Naquela época, foi constatado que 36,7% da população enfrentava algum grau de insegurança alimentar. O comparativo demonstra o aumento acelerado da fome no Brasil, que já vinha crescendo pelo contexto econômico e, principalmente, pela desmobilização de políticas públicas de segurança alimentar.
O desemprego e a informalidade são as principais causas ligadas à condição de insegurança alimentar no país. A pandemia por Covid 19, que aumentou o desemprego e diminuiu a renda na maioria dos lares, agravou a situação. E, se o cenário já foi ruim em 2020, quando os mais pobres contavam com um Auxílio Emergencial de R$ 600,00, em 2021, o panorama que surge é ainda mais cruel, com a redução do valor do auxílio e do número de beneficiados.
A fome tem cor, sexo e região
A insegurança alimentar é maior entre pardos e pretos, mães chefes de família e a população do Nordeste, indica a pesquisa financiada pelo governo alemão. Na geografia desigual da fome brasileira, 73,1% da população nordestina sofrem com algum grau de insegurança alimentar. Enquanto no Norte, são 67,7%; no Sudeste, 53,5% e 51,6% no Sul do país. Entre os brancos, 48,9% vivem na incerteza do que irão comer no dia seguinte, contra 67,8% dos pardos e 66,8% dos pretos. A situação se agrava quando se olham as casas chefiadas apenas por mulheres: são 73,8% dos lares nessa condição.
Em todos os contextos, quem sofre mais são as crianças. “Percebemos que a criança e o jovem são afetados pelas consequências econômicas advindas da pandemia. Os motivos são facilmente observáveis: diminuição ou ausência da renda familiar, e suas consequências que são a fome, o despejo, piora nos cuidados médicos e a violência familiar.”. Avalia a pedagoga, Eliane Carlos de Oliveira, atual presidente da Associação Acalanto Fortaleza.
A falta de recursos afeta de forma mais cruel quem vive em Instituições de Acolhimento. “Para esses, há ainda o afastamento social, que é natural dos acolhidos, mas agravado pela impossibilidade de ir à escola: um cárcere completo. Cumprem ‘pena’ sem terem cometido nenhum crime.”, relata a presidente da Acalanto. “Quando eles vivem nas ruas, passam a viver o cenário da ausência de fluxo humano, de onde eles tiravam o sustento mínimo.”, completa demonstrando que o quadro pode ser pior.
Outra pesquisa, agora do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feita em dezembro último, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), aponta que o índice de insegurança alimentar chegou a 70% entre os nove estados nordestinos. A fome, nível mais grave de privação de alimentos, foi constatada em 13,8% dos lares da região. Com o avanço da fome pela crise sanitária, aumenta também o número de crianças e adolescentes abandonados ou entregue aos acolhimentos.
O Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNAA), que informa, oficialmente, o número de crianças e adolescentes para adoção, registrou um aumento no Ceará. “A informação oficial que temos é do aumento. Antes o interior pouco impactava na inserção de crianças.”. Revela a voluntária da Acalanto, para quem esse crescimento tem relação proporcional com o aumento da fome. Mas, Eliane alerta para as obrigações do Estado. “É importante que se diga que o Estado deveria prover essa família de condições para que a criança e o jovem permaneçam com eles. Há projetos para isso. Mas, já eram bastante insuficientes e se encontram em colapso pela pandemia.”.
Para fazer a diferença
Em alusão ao Dia Nacional da Adoção, 25 de maio, a Acalanto Fortaleza realizará no sábado (22), uma noite de lazer em dez Instituições de Acolhimento de Fortaleza e região metropolitana. A ideia é garantir rodadas de pizza com suco ou refrigerante, para as crianças, adolescentes e profissionais das instituições. A atividade faz parte do Projeto Enquanto sua família não vem, nós iremos até você, que busca marcar com alegria uma data muito importante para o Movimento Nacional de Adoção de Crianças e Jovens.
Fundada em 2013, a Associação Acalanto Fortaleza luta para que toda criança e adolescente tenha uma família que os ame e os proteja, e que isso aconteça no prazo previsto por lei, assegurando-lhes os direitos. E enquanto isso não ocorre, que essas meninas e meninos, sob a tutela ou não do Estado, sejam plenos em seus direitos.
Sem fins lucrativos, a Acalanto reúne voluntários e simpatizantes que mantém a associação com doações e realizam atendimentos gratuitos de ordem jurídica; palestras públicas; formações e eventos informativos em que trabalham aspectos ligados a questões psicológicas e sociais que envolvem a situação de quem quer adotar ou ser adotado. Além de repassar doações às Instituições de Acolhimento, entre outras ações.
Para a noite da pizza acontecer, a Acalanto está recebendo doações. Mas, é possível ajudar a associação em qualquer época do ano. Mais informações, pelo Site: www.acalantofortaleza.com.br; Facebook: Acalanto Fortaleza; Instagram: @acalantofortaleza; Youtube: Acalanto Fortaleza; E-mail: ongacalantofortaleza@gmail.com e Telefone/WhatsApp: (85) 99998 8484.
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